Antonio Cícero, poeta, filósofo, membro da ABL e coautor de grandes clássicos da música brasileira morreu aos 79 anos. O letrista sofria com a doença de Alzheimer e optou por submeter-se a um projeto de morte assistida em Zurique, na Suíça, onde a eutanásia é legalizada.
Entre as canções que o escritor ajudou a criar estão “Fullgás“, “Virgem, “Pra Começar“, feitas em parceria com sua irmã, e maior parceira musical, Marina Lima, e “O Último Romântico“, com Lulu Santos.
Segundo informações do jornal O Globo, a cerimônia foi acompanhada por seu marido, Marcelo Pies, que também será responsável por trazer as cinzas do autor pra o Brasil na próxima quinta-feira.
Segundo seu companheiro, Cicero planejou todos os detalhes da sua morte assistida e solicitou aos poucos que sabiam de sua decisão a mantivessem em segredo.
Cícero foi eleito em 10 de agosto 2017 para ocupar a cadeira 27 da Academia Brasileira de Letras (ABL), que um dia foi de Joaquim Nabuco. Além de mais de uma centena de letras de canções, ele publicou livros conceituados de filosofia (“Poesia e Filosofia” de 2012) e poesia (“A Cidade e os Livros”, de 2002). Cícero visitou a ABL pela última vez na quinta-feira, dia 17.
O escritor deixou uma carta de despedida aos amigos:
“Queridos amigos,
Encontro-me na Suíça, prestes a praticar eutanásia. O que ocorre é que minha vida se tornou insuportável. Estou sofrendo de Alzheimer. Assim, não me lembro sequer de algumas coisas que ocorreram não apenas no passado remoto, mas mesmo de coisas que ocorreram ontem.
Exceto os amigos mais íntimos, como vocês, não mais reconheço muitas pessoas que encontro na rua e com as quais já convivi. Não consigo mais escrever bons poemas nem bons ensaios de filosofia. Não consigo me concentrar nem mesmo para ler, que era a coisa de que eu mais gostava no mundo.
Apesar de tudo isso, ainda estou lúcido bastante para reconhecer minha terrível situação. A convivência com vocês, meus amigos, era uma das coisas — senão a coisa — mais importante da minha vida. Hoje, do jeito em que me encontro, fico até com vergonha de reencontrá-los. Pois bem, como sou ateu desde a adolescência, tenho consciência de que quem decide se minha vida vale a pena ou não sou eu mesmo.
Espero ter vivido com dignidade e espero morrer com dignidade.”